Lições da Babilônia: Controle seus gastos, por Chael Mazza e Elvira Cruvinel

“(…) Façam o orçamento de suas despesas de modo que possam ter dinheiro para pagar pelo que é necessário, pelos prazeres e para satisfazer seus mais valiosos desejos sem despender mais do que nove décimos de seus ganhos”
(CLASON, 1926:45).

Se perguntarmos quanto é seu salário hoje, provavelmente terá essa resposta na ponta da língua. Mesmo que seja um número variável, você saberá dizer o quanto recebe em média. Somos muito bons em saber exatamente quanto ganhamos, seja para podermos comparar com alguma expectativa de sucesso ou simplesmente para saber o que podemos comprar.

Por outro lado, se perguntarmos qual o total dos seus gastos hoje, ou seja, qual o valor de suas despesas mensais, dificilmente tem-se isso de forma exata na cabeça. Infelizmente, é uma informação que tratamos como secundária.

A verdade é que saber quanto se gasta e como se gasta é fundamental para o sucesso financeiro. Como diria Peter Drucker, pensador e administrador: não é possível gerenciar aquilo que não controlamos. Ou seja, o primeiro passo para qualquer gestão de suas finanças pessoais é saber exatamente o quanto você gasta.

Os antigos babilônios sabiam que controlar seu dinheiro era fundamental para sua riqueza. E, nesse processo, saber para onde ia o dinheiro era uma tarefa até prazerosa, pois permitia a eles se destacarem entre os demais. A qualquer momento, sabiam para onde estava indo seu ouro e como poderiam fazer para obterem mais ouro.

Assim, a segunda lição dos babilônios se baseia justamente na necessidade de controlar nossos gastos. Precisamos aprender com os antigos, pois o controle e registro de nossas despesas, apesar de parecer ser algo cansativo de se fazer, é na verdade uma ação extremamente libertadora. Para ajudá-lo na aplicação dessa lição, sugerimos o passo a passo seguinte em três etapas:

1) Elabore um Orçamento Pessoal

Nesse aspecto, não é necessário muito. Um lápis e um papel já resolvem, mas quem preferir pode utilizar algum aplicativo ou planilha no computador. Existem diversas opções disponíveis gratuitamente. De qualquer modo, a ideia central de qualquer orçamento pessoal é simplesmente saber quanto e como se gasta.

Para começar, basta elencar, de um lado, todas as suas receitas, ou seja, todo o dinheiro que entra. Para a maioria das pessoas, será apenas o salário ou o ganho de seu trabalho, mas podem ser também rendimentos de negócios ou aluguel de imóveis, como exemplos.

Do outro lado, liste todas as suas despesas, dividindo-as entre fixas – aquelas praticamente constantes todos os meses – e variáveis – aquelas cujo valor se alteram todos os meses e tem a ver com o uso daquele bem ou serviço que você teve naquele mês. A fatura do cartão de crédito e as contas e boletos pagos podem ajudar a identificar esses valores.

Como exemplo de despesas fixas, temos a conta de aluguel, água, luz, telefone, internet, netflix, mensalidade escolar, prestação de bens duráveis, como um celular ou geladeira, dentre outros, ou mesmo financiamentos ou empréstimos que você tomou por diversos anos ou meses. Já como exemplo de despesas variáveis, temos os gastos com supermercado, compras diversas, cinema, festas, shows, bares e restaurantes; e também gastos inesperados, como um remédio extra ou um conserto de um computador ou outro bem.

Após descobrir para onde vai seu dinheiro, agrupe as despesas em categorias, ou seja, junte itens similares; por exemplo, uma categoria poderia ser “lazer”, onde entrariam despesas com bares, restaurantes, diversão e entretenimento. Outra categoria poderia ser simplesmente as contas de supermercado. A melhor categorização vai depender do rol de suas despesas e de seu estilo de vida. A ideia é que as categorias façam sentido para você, de forma a facilitar a visualização do tipo de gasto que você está tendo.

Com isso, você saberá onde exatamente estão seus gastos, tanto fixos quanto variáveis – podendo então partir para controlá-los!

2) Defina seu Modelo de Dinheiro

O Modelo de Dinheiro nada mais é do que a forma como você gasta seu dinheiro. Para isso, você deve estipular limites de gastos para cada categoria que você criou na etapa anterior.

Um modelo básico é o 70-20-10. Nele, a definição é que, de tudo o que você receber, considerando sempre o valor líquido (ou seja, depois dos impostos), 10% deve ir para investimentos visando a sua aposentadoria ou independência financeira; 20% para pagar dívidas ou, caso não tenha dívidas, para investir em sonhos de longo prazo – como uma casa própria, a troca do carro ou uma viagem dos sonhos; e os 70% restantes devem ser utilizados para os gastos do cotidiano. Ou seja, o somatório das suas despesas – fixas e variáveis –, exceto as dívidas, deve ser no máximo 70% do seu salário.

Esse modelo é interessante pois todas as duas dívidas devem ser limitadas a no máximo 20% dos seus ganhos. Além disso, você garante que está investindo 10% de tudo o que ganha no seu futuro.

E, para os 70% restantes, a recomendação é que haja também limites, por exemplo 40% para despesas fixas e 30% para as variáveis; dentre as despesas variáveis, ainda é preciso definir limites para cada categoria, conforme sua conveniência.

Esse exercício gera resultados interessantes, pois você passa a controlar os seus gastos por limite, tendo como meta não ultrapassá-los.

Essa técnica é chamada técnica dos envelopes. Ela ajuda a visualizar suas categorias de despesas como contas separadas, onde você cria envelopes imaginários para depositar o dinheiro que você separou para aquela conta. Quando o valor no envelope acabar, não tem mais como gastar naquele mês, com aquela despesa.

Um ponto relevante aqui é que, ao final do mês, o dinheiro que sobrou em um envelope pode ser utilizado para cobrir um custo extra de outro envelope onde tenha faltado dinheiro. Desde que não se gaste mais do que a soma total dos envelopes, tudo fica dentro dos conformes.

3) Controle seus limites de gastos

Depois de passar pelas etapas anteriores, resta apenas o controle. A cada despesa realizada, você deve registrar o valor numa das categorias do seu orçamento. Planilhas e aplicativos tornam esse registro bem fácil de fazer, muitas vezes, de forma automática.

É fundamental acompanhar o limite geral de cada categoria de despesa. Ou seja, se você definiu até 10% do seu salário para a categoria lazer, quando esse limite é alcançado, a ideia é que você evite esse tipo de gasto até finalizar o mês. Como alternativa, pode utilizar o saldo do envelope supermercado, por exemplo, caso queira; lembrando que, nessa segunda situação, o outro envelope terá seu limite reduzido naquele mês.

Um acompanhamento importante é o limite do gasto geral com o cartão de crédito. Para isso, some o total das despesas fixas e variáveis que você costuma pagar com o cartão, de forma a ter o limite global de gasto do cartão de crédito. Controle o limite de sua fatura do cartão e verá a diferença que isso fará em sua vida.

Com o tempo essa prática torna-se rotina, e você aprende a gostar e melhorar seu modelo de dinheiro para fazer caber tudo o que você quer comprar e, ao mesmo tempo, sobrar dinheiro.

No blog Curta Finanças você encontra um modelo de planilha para controlar seus gastos, clique abaixo e conheça!

http://curtafinancas.com.br/2020/07/planilha-de-orcamento-pessoal/

“Qual pode ser o maior anseio de vocês? (…) Coisas que rapidamente se vão e são esquecidas? Ou, pelo contrário, sonhariam com bens mais estáveis (…), investimentos que trazem bons lucros? As moedas que vocês usam no dia a dia concedem aqueles primeiros desejos. As que vocês guardam, os segundos. (CLASON, 1926:43).

Chael é doutor em Administração pela UNB e criador do @curtafinancas no Instagram. Elvira é doutora em Administração pela FGV e possui ampla experiência com educação financeira. O conteúdo do artigo é de inteira responsabilidade dos autores, não representando posicionamento da instituição em que trabalham.


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